Écriture
Le Perroquet et le docteur
Betty Milan
Postface de Michèle Sarde
L’héroïne, Sériéma, est la petite-fille d’émigrés libanais établis au Brésil.
Dans ce roman, elle se remémore l’histoire de ses ancêtres et sa cure chez un
célèbre docteur parisien, confident de tous les arrachements et de toutes les
diasporas.
Le divan du psychanalyste permet de découvrir le drame actuel et universel de
l’immigration et de ses effets. Gain, ou perte, ou autre chose, se demande Sériéma
à propos de l’immigration. Faut-il renier ses origines pour s’intégrer à son
nouveau pays quand on est fils d’immigrants ? Et le métissage ? N’est-il pas
déjà notre patrie à tous – la vôtre, la mienne et celle de nos enfants ?
Autre thème : l’amour de la langue maternelle, et son lien tellement brésilien
à la musique. Car Sériéma nous vient du pays de la samba et du rire libérateur.
Elle manie l’humour autant que l’ironie, sans jamais s’épargner, dans une
écriture toujours limpide.
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Extrait de la postface
« L'histoire peut être ramenée, dans la simplicité qui
émerge en toute œuvre forte, du foisonnement des thèmes et de la
complexité qui est celle de la vie même, à une proposition : Sériéma
s'en va chercher son âme dans la capitale de l'esprit ; elle y découvre
que son âme est au pays et que l'esprit souffle partout. [...] Dans son voyage sur
le divan à travers époques et continents, dans sa diaspora reconstituée par
l'imaginaire, Sériéma a décollé avec le viatique d'une
langue aliénée dans laquelle ses premiers maîtres, les perroquets blonds, ne lui
ont appris qu'à "perroqueter". Elle a éprouvé les trous
d'air, l'étouffement devant le risque d'aphasie, devant
l'impossibilité de trouver les mots pour dire, dans la langue du docteur, rigide et
hostile qu'est pour elle le français, le déracinement et la séparation,
l'expulsion et le bannissement, l'exclusion et l'excommunication, qui sont au
commencement des origines. Puis les mots pour dire l'identité par les aïeux et par
le père et la mère et par le frère mort. Enfin les mots pour dire et se dire et
commencer à exister. »
Michèle Sarde
O Papagaio e o Doutor é um romance sobre os “turcos” do Brasil. A história
é narrada por uma descendente deles, Seriema, que foi à França fazer sua análise com
um renomado Doutor – inspirado por Jacques Lacan.
Rememorando a análise e o passado dos imigrantes, ela se liberta do Doutor e dos
ancestrais para se tornar quem ela deseja ser, cultivar a língua brasileira ou a
língua do ão, em que ela sonha.
Pela irreverência, Seriema evoca a Emília de Monteiro Lobato e o herói sem caráter
de Macunaíma, de Mario de Andrade. Como Emília, ela diz o que pensa. Como
Macunaíma, faz pouco do sentimento de culpa. Ri de si mesma e dos outros para se
libertar. Só que, à diferença de Macunaíma, ela não morre no fim do romance, não
vira estrela, sai de cena gostando de ser brasileira, mestiça e mulher.
Como diz no posfácio a escritora francesa Michèle Sarde, biógrafa de Marguerite
Yourcenar, a história pode ser assim sintetizada: “Seriema vai procurar sua alma
na capital do espírito e aí descobre que ela se encontra no seu país de origem e
que o espírito paira em todo lugar”.
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Fragmento do posfácio
Apesar da abundância de temas de O Papagaio e o Doutor e da sua complexidade, que
é, aliás, a da própria vida, a história, dada a simplicidade que emerge
de toda obra forte, pode ser sintetizada numa única proposição: Seriema vai
procurar a sua alma na capital do espírito e aí descobre que ela se encontra no seu
país de origem e o espírito paira em todo lugar. [...] Em sua viagem no divã,
através de épocas e continentes, em sua diáspora, reconstituída pelo
imaginário, Seriema decolou com o viático de uma língua alienada, na qual seus
primeiros mestres, os papagaios louros, só a ensinaram a "papaguear". Soube
depois, na língua do Doutor, na língua rígida e hostil, que o francês
era para ela, do súbito branco que lhe dava, do sufoco diante do risco de afasia, diante
da impossibilidade de encontrar as palavras para dizer. Soube do desenraizamento e da
separação, da expulsão e do banimento, da exclusão e da
excomunhão que estão no começo das origens. Finalmente, soube das palavras para
dizer, se dizer e começar a existir.
Michèle Sarde